O DESPERTADOR



O despertador
Num “pam, ram, pam!”
Das horas de acordar
E das manhãs


Sol tá na janela
Tem remela no teu rosto
Vai lavar!


Sou toda ternura
Mas não posso no apertar das horas
Va-ci-lar!


O despertador
Diz “anda logo!
Que o tempo não dá colo e quer partir!”


Toma
Teu café
Mas te arrebata
Esconjura de ficar


Sai do entressonho
Estremunhado, acabrunhado
Muda a catadura
Que outra lua deu lugar


Larga a tua queixa
Deixa à parte
Se esta arte não tem fim


“O dia cobra tributos e atributos
Domina o verbo do corpo e do tempo
Tem ciúmes
Maldiz a vertigem da boemia, da poesia, do olhar prosaico
Dos mistérios, incógnitas
Das danças circulares
Das tramas ancestrais


E quando escapa à vigília
A melodia ordinária
Um detalhe de quem passa
A camaradagem providencial
O dia recupera o foco sem perder a compostura
Mas ruboriza...
E às vezes,
Até sorri”


Forças e afagos
Prazos brutos, desencargos
Regra e entropismo
Que nos deixe respirar


Chega
Eu vou me embora
Não demora
Dá um beijo
Até mais


Sou toda ternura
Mas não posso no apertar das horas
Va-ci-lar!

SOBRE AS ÁGUAS DO GUAJARÁ

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Ri...
E toma um gole de pinga
Querendo ver a Baia do Guajará

Ri...
De toda vã filosofia
Trancada na academia de costas pra lá

Vê...
Do parapeito da praça
Desordenada danada ciranda que passa

Vê e via
Mal orquestrada cantoria
De ferro, vidro e borracha dobrando as esquinas

E ele via os homens
E claro que esses não viam
O que era apenas paisagem daquele lugar

Sim...
Uma paisagem que passa
Uma cachaça que acaba uma tarde que cai

Uma lua que desliza no céu
Transparece a pança velha ancestral
Clara lua em noite linda
Sobre as águas do Guajará

Lembrar da vida uterina
Num mundo mãe de sono, sombra, chute e paz...

SE A MARIA

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"Se a Maria goza e grita...
Isso não me repele
Nem lhe mortifica"

E se ela gosta e se ela gita
Se ela pula fogueira
Se ela dança quadrilha
Sai balançando a anca
E o povo todo anima

(2X)
"Se a Maria goza e grita...
Isso não me repele
Nem lhe mortifica"

E se ela roda e se arrepia
Girando toda ela
Ciranda na sainha
Se a perna dela é bela
E rela rente a chita

(2X)
"Se a Maria goza e grita...
Isso não me repele
Nem lhe mortifica"

E se ela toca bem a lira....
No verso a rima é nobre
Se no estribilho fica
Convoca toda gente
A transpirar na pista

(2X)
"Se a Maria goza e grita...
Isso não me repele
Nem lhe mortifica"

E se ela prova da comida
E rapa na panela
Com o dedo delicia
E se lhe atiça, petisca
O resto na cozinha

(2X)
"Se a Maria goza e grita...
Isso não me repele
Nem lhe mortifica"

Pois quando a roda se amofina...
No derradeiro gole
No renascer do dia
Se ela se cansa toda
Ela se fez Maria